Usar a pesquisa genética para identificar a relação entre a saúde de pacientes de covid-19 e o tamanho do impacto que o novo coronavírus provoca em pessoas de diferentes idades e com diferentes níveis de manifestação da doença. Esse é um dos objetivos de um estudo que está sendo desenvolvido por especialistas do Instituto de Pesquisa para o Câncer (IPEC), em Guarapuava (PR), a 250 quilômetros de Curitiba, em parceria com pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, e mais uma dezena de instituições do estado do Paraná.
“Já se sabe que alguns fatores de risco são idade avançada, obesidade, a existência de comorbidades, como doenças cardiovasculares, câncer ou diabetes, e que homens são levemente mais propensos a morrer de covid-19 do que as mulheres," explica o médico David Livingstone A. Figueiredo, presidente do Instituto para Pesquisa do Câncer (IPEC). “Queremos identificar os fatores genéticos comuns em três grupos, que são assintomáticos, os que precisam de internação hospitalar e os mais graves, aqueles que vão para a UTI”, disse o médico.
Ele destacou que o estudo vai tentar responder se alguns indivíduos apresentam mais propensão para desenvolver as formas mais graves da doença e se haveria um fator genético inerente a estes pacientes que os torna mais propensos a desenvolver a doença. “E, ainda, se existem fatores genéticos, quais são os fatores que fazem com que pacientes com 25 a 30 anos morram, enquanto idosos evoluem bem?”, afirmou.
Segundo o presidente do IPEC, o que a maioria dos grupos de pesquisas têm feito atualmente tem o foco no vírus, tentando identificar as variedades do sars-cov-2 que são mais graves. “O nosso foco é o paciente, sua genética, vamos estudar o exoma”, afirmou Figueiredo. O exoma corresponde às regiões do genoma que tratam da codificação dos genes.
“O número de amostras a serem estudadas será amplo e a gente deve chegar a cerca de 800 casos a mil casos em análise”, explica Figueiredo. Segundo ele, o estudo mostra também a preocupação com a realização das pesquisas fora dos grandes centros, como São Paulo. “A gente montou um instituto genômico de ponta numa cidade pequena, no interior do Paraná, sem igual no sul do País”, afirmou Figueiredo.
Para ele, o momento é especial na luta dos cientistas pela condição imposta pela pandemia, ou seja, o grande número de casos, o que permite que pesquisadores trabalhem em diversas áreas do conhecimento médico. O País já tem mais de um milhão de infectados, com mais de 50 mil mortes em pouco mais de cem dias de pandemia. Figueiredo argumentou que a rede montada para o estudo do genoma “é única e pode trabalhar também em outras pesquisas além da covid-19”.
De acordo com o professor Wilson de Araújo Silva Jr, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, o resultado da pesquisa pode contribuir o desenvolvimento de fármacos que podem agir inibindo a infecção pelo coronavírus. Silva Jr lembrou que, na mesma linha de pesquisa, a revista científica New England acaba de publicar estudo semelhante na Inglaterra. “Eles também estão estudando os fatores genéticos envolvidos no desenvolvimento da covid-19”, disse. “Vamos também aproveitar os resultados desse estudo para comparar com os nossos dados”, afirmou o professor da USP.
Idosa do Paraná se recupera
O professor David Livingstone A. Figueiredo, do Ipec, destaca ainda a parceria com pacientes que se dispõem a contribuir com o estudo genético em busca de informações sobre eventuais resistências ou fragilidades diante da infecção. Em Guarapuava, a paciente Wakako Imagawa, de 92 anos, que contraiu o coronavírus e precisou ser hospitalizada, é um dos casos de infecção que serão analisados no estudo. Dona Wakako está bem e já teve alta. “Minha mãe está assintomática agora, está bem, mas foi internada no hospital São Vicente”, contou ao Estadão a filha dela, Bety Tateiva, de 64 anos.
Bety explicou que a mãe é de Londrina, mas está passando uns tempos na casa da filha, em Guarapuava. Dona Wakako começou a sentir-se mal na quinta-feira, dia 11, no feriado Corpus Cristi. Ela foi medicada no hospital da cidade e voltou para casa. No sábado, porém, a idosa teve febre de 38 graus. “Fomos ao hospital e um raio X apontou uma pneumonia. Aí ela ficou no hospital por um semana”, relatou Bety.
O exame comprovando que dona Wakako estava com a infecção pelo coronavírus chegou quatro dias depois. “Mas ela estava bem de saúde, até pediu gohan (arroz) e comeu sushi lá no hospital”, contou Bety. Nesta sexta-feira, 19, dona Wakako teve alta. “Ela está bem e já está em casa”, disse a filha. “Você falou com o dr. David?”, questionou Bety. “É importante, sim, participar da pesquisa dele”, afirmou a filha de dona Wakako, que não fez exames para covid, mas não tem sintomas da doença da mãe, e obedece o isolamento social permanecendo em casa.
Fonte: O Estado de S. Paulo | Portal da Enfermagem
Comentários